Perda de Memória Recente: quando fazer Avaliação Geriátrica

Postado em: 10/10/2025

Esquecer algo de vez em quando é normal. Perder as chaves, não lembrar onde estacionou o carro ou confundir um horário acontece com todos.

O problema surge quando esses esquecimentos se tornam frequentes e começam a atrapalhar atividades simples do dia a dia.

Nessas situações, a avaliação geriátrica é fundamental para diferenciar o envelhecimento saudável de possíveis doenças tratáveis ou dos estágios iniciais de demência.

Na minha prática clínica, vejo como identificar cedo esses sinais pode transformar a vida de pacientes e famílias. Quero mostrar o que está por trás da perda de memória recente, quando buscar ajuda e quais estratégias preservam a saúde do cérebro.

Perda da memória recente: o que é?

Chamo de perda de memória recente a dificuldade de recordar informações de pouco tempo atrás — a conversa que acabou de acontecer, o recado recebido ou o compromisso marcado para amanhã.

Ela se diferencia da memória de longo prazo, que guarda histórias antigas e marcos de vida, porque interfere diretamente na rotina.

Ter lapsos ocasionais são esperados, mas o que preocupa é a frequência e o impacto funcional. Se a pessoa esquece de pagar contas, deixa de tomar remédios, não retorna ligações importantes ou não consegue mais preparar uma receita, é sinal de alerta.

Notou perda de memória recente que interfere no cotidiano? Esse é o momento de agendar uma avaliação geriátrica. Meu papel é identificar causas tratáveis e traçar um plano claro para proteger a memória e a autonomia.

Perda de memória recente em idosos: o que pode ser?

Nos idosos, a perda de memória recente costuma ter múltiplos fatores. Muitas vezes encontro causas reversíveis, como:

  • Estresse, ansiedade e depressão, que prejudicam a concentração e a lembrança;
  • Apneia do sono, que interrompe o descanso e afeta a memória;
  • Hipotireoidismo ou deficiência de vitamina B12, ambos comuns após os 60 anos;
  • Medicamentos com carga anticolinérgica, como alguns usados para alergia, bexiga hiperativa e depressão, que impactam negativamente a cognição.

Em outros casos, lidamos com condições que exigem acompanhamento contínuo, como:

Também é preciso olhar para o estilo de vida: sedentarismo, alimentação pobre, álcool em excesso e sono de má qualidade aceleram o declínio cognitivo.

Além disso, micro-isquemias silenciosas (pequenas alterações vasculares no cérebro) são muito frequentes em idosos e afetam a memória. 

Quando fazer avaliação geriátrica?

Recomendo procurar um geriatra quando os esquecimentos:

  • Persistem por 2 a 4 semanas ou se tornam progressivos ao longo dos meses;
  • Aparecem após uma queda, infecção, cirurgia ou período de estresse intenso;
  • Pioram após o início ou a troca de um medicamento (sobretudo os com carga anticolinérgica);
  • Provocam erros em tarefas práticas, como finanças, uso de celular e aplicativos ou gestão de senhas;
  • Vêm acompanhados de outros sintomas: ronco e pausas respiratórias (apneia do sono), tristeza persistente, ansiedade, perda auditiva ou visual não corrigida, quedas, fraqueza ou sarcopenia;
  • São percebidos por familiares ou cuidadores como uma mudança significativa de padrão.

Na consulta, não analiso apenas a memória. Avalio sono, humor, mobilidade, nutrição, visão, audição, lista de medicamentos e rede de apoio social.

A memória não funciona de forma isolada; ela se conecta com todo o organismo. Essa visão ampla aumenta as chances de identificar causas tratáveis e prevenir complicações.

Exames indicados

Não existe um “pacote pronto” de exames. Cada caso pede uma abordagem personalizada. Costumo utilizar:

  • Testes cognitivos: medem memória, atenção, linguagem e funções executivas;
  • Exames de sangue: investigam vitamina B12, função da tireoide e origens metabólicas;
  • Ressonância magnética ou tomografia: avaliam estrutura cerebral e sinais de doença vascular;
  • Polissonografia: indicada quando suspeito de apneia do sono;
  • Eletroencefalograma (EEG): em casos específicos;
  • Rastreamento cognitivo digital: permite acompanhar mudanças sutis ao longo do tempo;
  • Protocolos de reabilitação cognitiva: utilizados como parte do tratamento, quando necessário.

Formas de exercitar e preservar a memória

Há muito que podemos fazer no dia a dia para fortalecer o cérebro. Veja as medidas que mais recomendo:

  • Atividade física regular
    • 150 minutos semanais de exercícios aeróbicos + 2 sessões de força;
    • Melhora o fluxo sanguíneo cerebral e regula neurotransmissores.
  • Estímulo cognitivo
    • Leitura, cursos rápidos, aprender um instrumento e jogos de estratégia;
    • Aumenta a reserva cognitiva e estimula a atenção e o planejamento.
  • Sono reparador
    • Horário fixo, ambiente escuro e silencioso;
    • Evitar telas 1 hora antes de dormir;
    • Consolidar memórias depende de um sono de qualidade.
  • Alimentação mediterrânea
    • Frutas, verduras, azeite, peixes e leguminosas;
    • Metade do prato deve ser de vegetais;
    • Boa hidratação é essencial para concentração.
  • Vida social ativa e controle do estresse
    • Encontros presenciais, conversas significativas e participação em grupos;
    • Técnicas de respiração, meditação e psicoterapia.
  • Controle de doenças crônicas
    • Hipertensão, diabetes e colesterol sob controle;
    • Pilares do envelhecimento saudável e proteção contra lesões vasculares cerebrais.

Quer um roteiro prático para iniciar hoje? Na avaliação geriátrica, defino metas realistas de atividade física, sono, nutrição e estímulo cognitivo para a sua família. Agende sua consulta!

Formas de tratamento para a perda de memória recente

Quando encontro causas reversíveis, costumo:

  • Ajustar medicações que possam prejudicar a memória;
  • Corrigir deficiência de vitamina B12 e hipotireoidismo;
  • Tratar apneia do sono;
  • Manejar humor com psicoterapia, higiene do sono e, quando necessário, medicamentos.

Nos quadros neurodegenerativos, utilizo terapias que podem retardar a progressão e aliviar sintomas. Associo:

  • Rotinas estruturadas.
  • Treino de funções executivas.
  • Educação do cuidador, crucial para o sucesso do tratamento.

Em todos os casos, reviso periodicamente a prescrição, proponho metas graduais de atividade física, oriento sobre nutrição adequada e estimulo a prática de atividades cognitivas.

O objetivo é preservar autonomia, garantir segurança e fortalecer vínculos. Porque memória não é só lembrança; memória também é afeto.

Perguntas frequentes (FAQ)

1) Quando o esquecimento deixa de ser “normal”?

Quando é repetitivo e prejudica a rotina — compromissos, remédios, finanças. Nesse caso, procure um geriatra.

2) Toda perda de memória recente é Alzheimer?

Não. Muitas vezes há causas tratáveis, como distúrbios do sono, deficiência de vitamina B12, alterações na tireoide, uso de medicamentos ou questões emocionais.

3) Quais exames realmente ajudam?

Os principais são: testes cognitivos, exames de sangue, ressonância ou tomografia. Em casos específicos, polissonografia e EEG.

4) O que posso fazer em casa para ajudar meu familiar?

Manter atividade física, sono regular, alimentação equilibrada, estímulo cognitivo, vida social ativa e controle de doenças crônicas.

5) Vale a pena começar cedo?

Sim. Quanto mais precoce a intervenção, maiores as chances de estabilizar o quadro e preservar a qualidade de vida.

Por que avaliar agora?

A perda de memória recente não é sentença, mas um sinal de atenção. Com diagnóstico precoce, ajustes no estilo de vida e tratamento adequado, é possível melhorar o desempenho, reduzir riscos e planejar o futuro com segurança.

Percebeu sinais em seus pais ou familiares? Agende uma consulta geriátrica. Atendo em Vila Mariana, Santo André e Alphaville. Juntos, podemos traçar um plano personalizado para proteger a saúde e a memória — começando hoje.

Mário Luiz Brusque
Geriatra e Clínico Geral
CRM 117208 – SP | RQE 30436 | 30435

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